
Redução da
maioridade penal volta ao centro de discussões
na sociedade civil
"A notícia da morte do soldado militar
Carlos Henrique de Carvalho Lima é, sob
todos os aspectos, chocante e revoltante. Contudo,
a possível participação de
adolescentes no crime não deve servir para
justificar a opção pelo retrocesso
que significaria a redução da maioridade
penal.
O
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
em 2008, completa sua maioridade e durante esse
tempo é facil perceber que o problema da
violência, principalmente quando o autor
é adolescente, traz consigo uma grande
carga de preconceito. Como se apenas a mudança
da Lei tivesse força para resolver um problema
bem mais complexo.
Parte
das elites brasileiras não consegue perceber
o avanço que o ECA proporcionou
nesses anos, e que só a correta aplicação
de suas normas poderá garantir uma sociedade
mais justa e igualitária.
A
Prefeitura Municipal de Fortaleza
vem desde 2005 municipalizando a medida socioeducativa
da Liberdade Assistida, a que melhor se aplica
a casos de conflito com a lei, com ótimos
resultados. A taxa de reincidência é
mínima nos 1.500 casos acompanhados atualmente.
Uma prova de que o ECA possui
os instrumentos para a modificação
desta realidade. Sua aplicação é
um dever de todos, Poder Público, órgãos
de responsabilização e da sociedade"
Gilberto
Braga
Chefe de Gabinete da Funci
(Fundação da Criança e da
Família Cidadã)
"Sempre
que acontecem crimes envolvendo adolescentes,
a discussão da redução da
maioridade penal vem à tona. Percebemos
que a cidade, assim como o país, está
vivendo um clima de violência e isso é
um fenômeno causado por vários fatores
e não só pela juventude.
O Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) está completando
18 anos em 2008 e é preciso fazer uma reflexão
sobre como a sociedade de fato vem implementando
esta política, pois o ECA
é uma responsabilidade não só
do Governo, mas também da sociedade civil
e da família que, juntos, são responsáveis
por garantir a proteção integral
de crianças e adolescentes.
Neste
momento de discussão é preciso pensar
sobre como a sociedade vem implementando a política
e atendendo as crianças e adolescentes?
Muito se questiona sobre a falta de punição
aos adolescentes que cometem atos infracionais,
mas quando os jovens cometem algum ato desta natureza
eles são inseridos em um sistema de responsabilização,
são as medidas socioeducativas. A aplicabilidade
delas respeita a condição de desenvolvimento
físico e intelectual do adolescente, mas
se propõe a punir e é tão
punitivo como o sistema penal.
Quando falamos da violência urbana é
preciso levar em consideração vários
fatores da complexidade da sociedade moderna.
Não podemos reduzir esta questão
aos nossos jovens. Primeiro temos que pensar como
a sociedade esta garantindo a proteção
integral de nossas crianças e adolescentes,
pois isto não é responsabilidade
exclusiva do Estado, mas de toda a sociedade.
Temos também que garantir um sistema sócioeducativo
que atenda e responsabilize os adolescentes infratores,
para que eles sejam punidos pelos seus atos, mas
que este atendimento esteja dentro do paradigma
dos direitos humanos isso vale também para
o sistema penal do nosso país que está
falido e não responde a sensação
de punição.
O Comdica começou desde
o ano passado uma série de ações
para se contrapor esta discussão da redução
a idade penal e endurecimento da pena para os
adolescentes infratores. Nós organizamos
em grupos de trabalhos onde participam diversas
instituições do sistema de garantia
de direitos como o ministério público,
os judiciário, prefeitura e outros tão
importantes.
Os
grupos de trabalhos têm os seguintes temas:
Garantia da convivência familiar e comunitária
que visa garantir o atendimento dos adolescentes
dentro da própria comunidade e da família,
A construção do Plano Municipal
de Atendimento Socioeducativo que discute a situação
das medidas Socioeducativo em Fortaleza, e o GT
do Adolescente aprendiz que pensa a profissionalização
do adolescente. Com estas ações
esperamos fortalecer e articular as políticas
públicas de atendimento a criança
e o adolescente para garantirmos a desejada proteção
integral e não a redução
penal.
Thiago
de Holanda, presidente do Comdica
- Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente
FONTE:
Catavento

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