Aceitar que não somos super-homens e/ousuper-mulheres significa simplesmente aceitar a realidade dos fatos como eles são e isso não significa que devemos nos sentir culpados ou não dignos de consideração, tampouco significa que devemos desistir dos nossos sonhos. É uma tendência se falar muito em perfeição, propondo-semi modelos unilaterais e absolutos através da publicidade e da mídia com fito a como devemos nos comportar. Isso já se inicia logo na mais tenra idade, quando todos nós (ou quase) somos alimentados com projetos  de vida ditados pelos pais, fazendo dessa questão o ponto central de nossas existências.

  Quem entre as mulheres nunca ouviu falar de "corpo perfeito" e nunca o quis?Mas quantos  adoeceram ou até morreu com a busca louca de obtê-lo? E quantos homens, por sua vez, sofreram as mesmas pressões, embora sob um prisma diferente? Deixando de lado o capítulo sobre o corpo e falando sobre as questões mentais e sociais associadas à perfeição, o abismo não é menos profundo. 

Felizmente, há pelo menos uma década, o mundo da comunicação e da moda se cansou do conceito de perfeição e está tentando jogá-lo fora, preferindo falar sobre a singularidade do assunto em vez de conformidade a um modelo (ou, pelo menos , tentando apresentar vários modelos e não apenas um).  Os resultados dessa mudança, no entanto, ainda não são muito visíveis na mentalidade na cabeça da grande massa.

É fato que que temos sido martelados com certos insumos da mídia por anos e anos e que os efeitos desse condicionamento não terminam num estalo de dedos. Entretanto, todos nós sabemos que "imperfeito é belo".  Alguém disse, com muita propriedade que a beleza está nos olhos de que a vê. Mas afinal, podemos transformar essa sentença em ação?  Somos capazes de nos acolher e aceitar-nos sem a necessidade de nos sentirmos culpados? Bom, ser imperfeito não é falta, pois disso é constituído o humano. Logo não há necessidade de perdão?

Partindo-se do princípio que a grande tarefa que a vida nos impõe e o auto-conhecimento, temos que superar nossas limitações e erros frente às expectativas dos outros a nosso respeito. Na escola, no trabalho e mesmo na vida privada, somos sobrecarregados, desde criança, com expectativas sobre nós próprios e sentimo-nos compelidos a satisfazê-las para gratificar aos outros e desfrutar do tão esperado tapinha nas costas.  Esse contínuo agradar aos outros torna-se, com o tempo, uma verdadeira corrente à qual nos mantemos presos vida afora, levando-nos ao estresse e à exaustão.

Se isso não acontece, tentamos cortar a corrente da maneira errada, desistindo de lutar, deixando ir e abandonando todos os sonhos. Encontrar um meio-termo e dar o nosso melhor honestamente, sem nos forçarmos a ser aquilo a que os outros querem que sejamos. O importante é estarmos plenamente convencidos de que ser perfeito não é obrigatório, que ninguém é e que somos maravilhosos assim. Quem se conhece bem sabe o que pode dar, o que gosta e aonde se quer chegar. Nos mais, que vá os confins do Judá com seus projetos pensados para nós. Saber carregar sua própria bela imperfeição como uma medalha é muito mais saudável do que perseguir as conquistas que o outro projetou para nós.