UMA
REFLEXÃO ECOLOGICA NO BRASIL
No
Brasil, o desenvolvimento constitui-se basicamente
num duplo processo de produção
da desigualdade em nível social: através
do autoritarismo político e do descaso
ou destruição sistemática
dos recursos naturais disponíveis em
abundancia no país.
Começamos por destruir os povos indígenas
que aqui viviam em paz com a natureza.
Depois, operamos o desenvolvimento através
da força de trabalho escrava, destruindo
gentes para mover a economia e acumular riqueza
para uns poucos. Com a
industrialização, continuamos
no mesmo caminho, acentuando as desigualdades,
concentrando a renda pagando baixos salários,
ignorado as condições de vida
e de trabalho dos trabalhadores, explorando
de forma extensiva e predatória os recursos
naturais, incendiando florestas, poluindo rios,
lagoas e mares, gerando metrópoles, onde
o ar é poluído e milhares de pessoas
vivem na miséria.
No Brasil, hoje, reaparecem epidemias que deveriam
estar erradicadas há mais de um século,
o país se vê frente a outras, novas,
que não tem condições de
enfrentar como a AIDS. Nas grandes cidades,
o ser vivo mais ameaçado de extinção
pela violência do
próprio homem são as crianças
de ruas, que se transformam em alvo de grupos
organizados e são assassinadas sob o
olhar cúmplice ou complacente do poder
público e, ás vezes, da própria
sociedade.
Na Amazônia, a ação predatória
das madeireiras da grilagem, dos grandes projetos
minerais, das hidroelétricas gigantescas,
coloca em evidencia o quanto se pode destruir
de forma talvez definitiva, um bem natural de
tal importância e magnitude.
No centro-sul, as atividades agrícolas
e industriais desprezam ao extremo as conseqüências
de sua atuação sobre i meio ambiente,
provocando o desgaste precoce de solos, a poluição
de rios, a destruição de florestas.
A ausência de reforma agrária,
entre outros problemas, tem obrigado a milhares
de pessoas a se refugiarem nas grandes cidades,
aonde a miséria a degradação
do meio ambiente vem como
conseqüências inevitáveis.
MP Brasil, a degradação do meio
ambiente e da sociedade, das pessoas e da natureza,
constitui cara e coroa de uma mesma moeda, de
um mesmo estilo de desenvolvimento e da ausência
de uma democracia mais ampla. Uma sociedade
organizada para beneficiar
tão poucos, e com tal nível de
exclusão, não tem olhos para ver
seus próprios habitantes, e seria quase
insano esperar que aqueles que não sabem
respeitar os
direitos de uma criança possam demonstrar
interesse pela preservação das
florestas e da fauna.
No Brasil, a defesa do meio ambiente tem de
começar pela defesa da própria
humanidade, tomando como caminho o da democracia.
O Autoritarismo, aqui e em várias partes
do mundo, já demonstrou que seu projeto
de desenvolvimento não contemplar a maioria
das pessoas nem o respeito á natureza.
Seu fracasso constitui a nossaquestão
ecológica. Resta o outro caminho, aquele
que constrói pontes de solidariedade,
igualdade e participação, com
respeito á diversidade e á liberdade
sob um novo olhar, porque não, uma nova
emoção.
Afinal, não deve estar tão longe
assim o tempo em que olhávamos para o
céu em busca de estrelas e de um sentido
mais amplo e profundo para nossas vidas.
Valentim
Santos
é Ambientalista, Historiador e colunista
do site do bairro Antônio Bezerra
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