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Ana
Cláudia Marques Bastos |
Educação
X Violência:
A família e a escola como promotores
da Democracia e da Paz
Os seres humanos, embora se denominem
como espécie animal racional, estão
muito aquém de se portarem como sujeitos
de direitos e deveres, convivendo com os outros
e com a natureza de modo consciente e harmônico,
respeitando as diferenças e as limitações
das criaturas e do ambiente que os rodeiam.
Os desafios que se apresentam
na contemporaneidade são intrigantes,
pois a tolerância entre as pessoas é
mínima. Há uma aceleração
causada pelo stress do dia-a-dia que impulsiona
a “pessoa-humana” a se revelar animal,
movida por instinto. Ela se droga, rouba, estupra,
corrompe, se corrompe, se mata, mata...
A vivência entre as
famílias é “efeito dormitório”,
ou seja, os pais saem muito cedo e os filhos
passam o dia inteiro em atividades extra-lar,
à noite os pais retornam do trabalho
e com os filhos partilham do mesmo teto, porém
não interagirem. Não há
diálogo, e, quando há comunicação,
está mais para monólogo.
Isso faz com que a sociedade
contribua para gerar seres autoritários.
Se dentro dos lares não há o direito
de se expressar e o hábito da escuta,
não consolidaremos a democracia e a sociedade
permanecerá construindo uma população
ditatorial e autoritária.
O que se quer esclarecer
é que, no lar, os responsáveis
por criar as crianças e os adolescentes
devem entender que estão tratando com
seres em desenvolvimento cognitivo e social.
Estes dependem dos adultos que os cercam para
dar-lhes limites e guiá-los através
do diálogo para a vida em sociedade.
A independência dos
jovens deve ser estimulada, mas autonomia não
pode ser confundida com omissão, os responsáveis
devem incentivar os estudos, o lúdico,
o esporte, o lazer e, quando o amadurecimento
for maior se deve estimular a independência
financeira. A inserção no mercado
de trabalho deve ser retardada para que o adolescente
amadureça e possa enfrentar a fase adulta
com mais competência técnica e
discernimento para as escolhas mais definitivas
da vida.
Içami Tiba destaca
a mesada como sendo uma ótima experiência
para se ensinar aos filhos a gastar e a poupar
de forma racional, gerenciando de forma planejada
o que possui por mês para que não
falte. E se os jovens se excederem os pais não
devem conceder adiantamento, pois eles precisam
aprender a viver de modo responsável.
O estágio ou o primeiro emprego deve
acontecer no fim da adolescência quando
o amadurecimento existe e o jovem poderá
enfrentar os percalços com mais segurança.
As relações
que se efetivam na família desembocam
na sociedade, e são elas que com o Estado
tem o dever de garantir a proteção
das crianças, isso nem sempre procede.
A família costuma ser entendida como
um núcleo de harmonia e compreensão
e, nem sempre, isso é verdadeiro. Segundo
as pesquisas à violência física
e o abuso sexual aparecem com alto índice
dentro dos lares provocado pelos pais e/ou parentes
próximos.
A carência de afetividade
na família se caracterizará como
violência nas relações.
Se o que se verifica são gritos, ofensas
e constrangimentos (violência verbal),
surras, ferimentos, estupros ou torturas (violência
física), esse ambiente caótico
aferirá uma violência psicológica
com sérios prejuízos aos pequenos
e pequenas que desabrocham para as relações
sociais, seja na creche, na escola, na rua,
na igreja e demais grupos aos quais irão
fazer parte.
A escola é um lugar de relações
e, se a violência faz parte da sociedade,
também na escola teremos diversos tipos
de violência, mas a escola como ambiente
de relações precisa efetivar um
fórum permanente de discussão
para se programar uma escola democrática.
A Constituição Federal de 1988
e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional de 1996, elencam a gestão democrática
para a escola pública.
Vários organismos colegiados
foram formados na escola pública, os
grêmios estudantis se fortaleceram, os
conselhos escolares e associações
de pais e mestres se engajaram no debate pela
educação de qualidade para todos,
mas efetivamente falta mais agilidade no judiciário,
quando a escola realiza denúncias de
violência doméstica ou de menores
contra outro menor, ou de violência de
gêneros, não acontece celeridade
nas ações para se minimizar os
maus tratos contra a criança e o adolescente.
Os Conselhos Tutelares são
reais, porém as ações são
virtuais na maioria dos casos. As desculpas
pela falta de ação são
várias, vejamos: falta de transporte,
falta de computador, falta de telefone, falta
de material, e acrescenta-se a falta de compromisso
e a falta de cidadania. Claro que há
exceções e são esses conselheiros
que não se deixam abater pelos entraves
que alavancam um bom trabalho, fazendo as intervenções
necessárias, seja através de conciliação
e/ou enviando as demandas para que o Ministério
Público possa resolvê-las.
As escolas poderão
ser núcleos de prevenção
e repressão da violência. Para
ser meio de prevenção, o Estado
precisa ter vontade política e destinar
verbas que alavanquem esporte, arte, cultura,
lazer e debate, tornando esse equipamento acessível
a comunidade e de repressão quando, através
das comissões contra maus tratos às
crianças e adolescentes, denunciar aos
órgãos responsáveis e formar
uma rede forte de proteção a esses
cidadãos (0 a 18 anos incompletos), sujeitos
de direitos e de deveres, porém vulneráveis
e expostos aos desmandos dessa sociedade adulta.
Fortaleza, 04 de novembro de 2008.
Ana
Cláudia é Coordenadora de Gestão
do EEMF Antônio Bezerra e colunista do
BAB
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