Em todas as cidades do interior e alguns bairros
das cidades existe uma feira de livre comércio
com dias determinados onde as pessoas se reúnem
para comprar ou vender. São momentos festivos
onde todos, independente de sexo, cor ou religião,
aproveitam como momento de distração. Sua
origem é milenar, vindo dos povos fenícios
que descobriram novas rotas comerciais marítimas
e dominaram todo o mediterrâneo.
Os
primeiros registros de feira no Barro Vermelho
foram descritos por Antônio Bezerra, em seu
livro "Notas de Viagem ao Norte do
Ceará", onde ele registra a vinda
de comerciantes da cidade de Soure, antigo
nome da cidade de Caucaia, para comercializar
seus produtos com os moradores dos sítios
e chácaras do Barro Vermelho. O local da feira,
que acontecia mensalmente, ficava em frente
à casa de Antônio Bezerra, e hoje, no local,
está edificada a Igreja Matriz.
Em
1955 surgiram ao lado da igreja as barracas
de frutas, cereais e verduras. Era o início
propriamente da feira no bairro Antônio Bezerra,
que se realizava aos domingos pela manhã,
mas devido ao barulho e a sujeira que os feirantes
deixavam, houve um desacordo por parte do
vigário.
Em
1959, Maria Eulina Vaz, mais conhecida como
"Maria Paraybana", José Gerardo da Silva e
Gerôncio Bezerra da Silva, que juntos haviam
iniciado a feira anteriormente, montaram suas
barracas no largo existente entre a rua Dr.Vale
Costa e a Avenida Mister Hull, vizinho à padaria
santa Maria e a mercearia Brasília de propriedade
do Sr.Djacir. Nesta época a feira teve seu
melhor período de expansão comercial. Várias
barracas de cereais, frutas, verduras e carnes
tornaram seu comércio intensivo com a participação
de todos os moradores do bairro e adjacências.
Não existiam os supermercados e todos compravam
nas feiras livres que funcionavam aos sábados
e domingos.
Com
o alargamento da Av. Mister Hull, em 1976,
a feira foi transferida para a rua Manuel
Nunes, depois para apraça Ipiranga, antiga
base aérea, local onde hoje existe um conjunto
habitacional. Depois de muita luta, o vereador
Gerôncio Bezerra consegue estabelecer a feira
na rua Dr. Vale Costa, vizinho ao cemitério,
ocupando toda a extensão da rua, onde funcionava
aos domingos pela manhã.
A
feira torna-se uma concentração popular que
resiste ao tempo. Sua existência é para muitos
uma forma de sobrevivência, de geração a geração,
tornando-se cada vez mais presente na vida
dos seus freqüentadores e vendedores, como
o senhor José Gerardo da Silva, um dos três
fundadores que ainda trabalha na feira. Ele
nos diz: "A feira foi muito boa para nós no
período de 60 e 70, hoje as barracas aumentaram
em 20%. Com o surgimento dos supermercados,
as barracas de cereais desapareceram das feiras.
Antigamente eram cinco barracas de frutas
e hoje são mais de vinte. Para mim a feira
é tudo na minha vida. Sem ela eu não existo."
Hoje
encontramos na sua extensão quase tudo. Frutas,
verduras, carnes, aves, confecções, utensílios
domésticos, raízes, comidas, condimentos,e,
no final da rua, a famosa feira de troca,
onde são comercializados todo tipo de mercadorias.
A
feira exerce um fascínio nas pessoas com sua
magia secular, na forma de cultura, arte e
poesia, pois todas as formas de artes estão
ligadas a feira. Na própria literatura encontramos
referência a ela, dos fenícios, egípcios,
romanos e árabes.
A
feira não é somente no bairro de antônio Bezerra,
nem no Brasil ou nos países em desenvolvimento,
hoje ela continua viva nos países mais. É
comparada a um templo onde se reúnem vários
tipos de pessoas. Se você observar, todos
os freqüentadores estão alegres. Lá estão
pobres, ricos, doutores, os lixeiros, os pretos,
brancos, religiosos, políticos em época de
eleição, os comerciantes...enfim, é uma reunião
de todas as classes sociais sem distinção.
A feira é uma forma de comunicação popular
verdadeira onde sabe-se, escuta-se, fala-se
de tudo. Lá encontramos os mais variados tipos
de comércio.
Maria
Paraybana aposentou-se e continua morando
no bairro; Gerôncio Bezerra foi vereador por
vários mandatos e depois deputado estadual,
sempre defendeu os feirantes na sua luta(faleceu
em 20 de julho de 2004); José Gerardo continua
vendendo na feira com barraca de frutas.