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Autor:
Pe. Almir Magalhães
Sacerdote e Pedagogo |
A Mística Missonária
O objetivo desta reflexão é contribuir
com a compreensão da motivação
missionária, em que consiste esta motivação,
entendendo-se por mística como a energia
vital da missão. Parte dos três
eixos elaborados pelo Missiólogo Paulo
Suess, que são a itinerância, o
despojamento e a luta. Tudo isto gira em torno
da identidade da Igreja peregrina, que por sua
natureza é missionária (Vat. II),
ou seja, a missão é responsabilidade
de todos aqueles que aderiram à proposta
de Jesus Cristo e foram batizados.
A vida
pública de Jesus de Nazaré foi
uma vida “a caminho”. A casa de
Jesus é o caminho, porquanto são
inúmeros os seus deslocamentos. Se prestarmos
atenção nas atividades de Jesus,
enquanto ele vai revelando processualmente o
projeto do Pai e no desenrolar do seu ministério,
está sempre a caminho, percorrendo cidades
e aldeias, subindo a Jerusalém, explicando
as Escrituras pelo caminho, nas sinagogas, nos
becos, no mar, em cima de barcas, na cidade,
vilas, nos campos, nos montes... Percebe-se
que o caminho passa a ser um paradigma fundamental.
Este primeiro eixo inspira, para nossas Igrejas
hoje, estruturas leves e sobretudo relacionais,
Também ajuda a mudar a perspectiva, porque
alimenta uma nova consciência, já
que significa desprogramação,
não realizada de forma estática,
rígida, rotineira, “porque com
mala pesada não se vai longe”.
Este eixo vem lembrar a nós, entre outras
realidades, o Ministério da Visitação.
Este precisa ser aprofundado e o mínimo
de preparação para aqueles que
desenvolvem tal Ministério é uma
necessidade. No meu último artigo publicado
no dia 27 de abril, abordo o assunto. Só
que o caminho e a itinerância aqui tratados
vão além das visitas domiciliares,
constituindo-se toda uma forma de se construir
a Igreja, a Paróquia, com rosto missionário.
O segundo eixo é o despojamento. A primeira
idéia de despojamento é dirigida
a todos os que exercem cargos de coordenação,
a começar por nós padres, e significa
desapegar-se dos privilégios, da tentação
do poder; aliás, não há
nenhuma novidade nisso na medida em que o próprio
Jesus falando aos discípulos disse: “Vocês
sabem que aqueles que se dizem governadores
das nações têm poder sobre
elas, e os seus dirigentes têm autoridade
sobre elas. Mas, entre vocês não
deverá ser assim: quem de vocês
quiser ser grande, deve tornar-se o servidor
de vocês, e quem de vocês quiser
ser o primeiro, deverá tornar-se o servo
de todos” (Mc. 10, 42-44), sem esquecer
da cena do lava-pés (Jo. 13, 1-11).
É o reconhecimento de uma Igreja toda
ministerial e o conseqüente exercício
da co-responsabilidade, da comunhão e
participação.
Vale ressaltar que do ponto de vista da espiritualidade,
desprendimento não significa abrir mão
de algo, mas significa deixar algo ser, algo
que estava ameaçado pelos apegos a desejos
e objetos e como tal não é privação,
mas libertação, crescimento, pois
da recusa a práticas de apego, que bloqueia
a liberdade, vão emergir energias novas.
Não é uma realidade simples, sobretudo
porque o despojamento vai indicar sempre a contramão
do sistema estabelecido que aponta justamente
para o contrário.
O Pe. Paulo Suess vai mais longe, quando afirma
que desprendimento não é apenas
exercício de libertação
de objetos, coisas e desejos, mas é também
ruptura, como intervenção em situações
que impedem parte significativa da sociedade
de viver sua vida com dignidade e aqui já
vai direcionando a reflexão para o terceiro
eixo, o da luta, da militância.
A ingente tarefa do terceiro eixo, a luta, tem
como foco justamente anunciar a ruptura com
tradições já ultrapassadas
e que não respondem mais ao contexto
que vivemos e a desconstrução
de tudo aquilo que impede o fluxo da vida. Entra
aqui de cheio a dimensão profética,
em baixa no momento. O cristão não
deveria nunca se conformar com o absurdo de
um mundo para poucos. É neste sentido
que temos procurado motivar as nossas Paróquias
e Áreas Pastorais a buscarem iniciativas
que rompam com a pastoral da manutenção,
uma pastoral que vive do passado e sem visão
escatológica, ou seja, de uma visão
que olha para o presente que não aceita
e projeta o futuro a partir daquilo que Jesus,
o Cristo, já realizou.
Importante perceber que o substantivo luta aqui
deve ser entendido como empenho, motivação,
compromisso e esforço ético transformador,
para que não seja imediatamente rechaçado
em função de interpretações
ideológicas distorcidas que, infelizmente,
já distanciaram demais a Igreja de suas
opções evangélicas, como
foi o caso da opção evangélica
pelos pobres.
Estes referenciais sobre a mística nos
ajudam a entender a dimensão missionária
da Igreja de uma forma realmente mais dinâmica,
mais comprometida com a transformação
da realidade, rigorosamente espiritual e pensa
a Igreja mais voltada para o serviço
e menos voltada sobre si mesma.
PADRE
ALMIR MAGALHÃES.
Pe.
Almir
é sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza,
Reitor do Seminário Arquidiocesano São
José (Filosofia), e colunista do site
do bairro Antônio Bezerra.
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