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Autor:
Pe. Almir Magalhães
Sacerdote e Pedagogo |
O
ENCONTRO COM JESUS CRISTO
Desde que foi publicado o Documento de
Aparecida (2º semestre de 2007), fruto
da Conferência Episcopal Latino Americana
e do Caribe, que povoa a minha mente de pesquisador
- aguçado pela curiosidade fértil
- uma preocupação. Esta, brota
de uma palavra chave do documento em apreço:
O ENCONTRO.
Logo nos primeiros números
do documento (nn. 12 e 243) está colocada
uma frase, já presente na Carta Encíclica
do Papa Bento XVI, Deus Caritas Est nº.
1 que assim diz “não se começa
a ser cristão por uma decisão
ética ou uma grande idéia, mas
pelo encontro com um acontecimento, com uma
Pessoa, que dá um novo horizonte à
vida e, com isso, uma orientação
decisiva”.
Esta reflexão
nos conduz inevitavelmene ao processo de Iniciação
à vida cristã e aos atuais procedimentos
da pastoral catequética de nossas comunidades
paroquiais, na medida em que o estilo atual
é de uma dedicada, mas frágil
preparação para a recepção
dos sacramentos, via de regra focada nas crianças
e nos adolescentes, sem perspectiva de discipulado,
de seguimento da pessoa e proposta de Jesus
Cristo.
Exige-se, pois, uma
renovação da modalidade catequética
da paróquia (Doc. Aparecida 294). A iniciação
à vida cristã é tão
prioritária, que foi um dos temas debatidos
na 47ª Assembléia da CNBB, realizada
este ano.
Neste sentido, o documento
em tela revisita as idéias do Concílio
Vaticano II mormente aquelas apresentadas nos
Decretos Ad Gentes sobre a atividade missionária
da Igreja, nº. 14, Decreto Christus Dominus
sobre o múnus pastoral dos Bispos na
Igreja, nn. 44 e 14, e a Constituição
Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a liturgia,
nº. 64 que tratam da restauração
do Catecumenato como parte deste processo de
iniciação, evidentemente de forma
atualizada, quando afirma: “Ou educamos
na fé, colocando as pessoas realmente
em contato com Jesus Cristo e convidando-as
para segui-lo, ou não cumpriremos nossa
missão evangelizadora” (DA 287),
despertando, assim, para o compromisso e para
o caráter missionário da identidade
eclesial, e formando autênticos discípulos-missionários.
O desafio que se nos
apresenta diante do contexto atual é
enorme. Pois, proceder à passagem de
uma catequese profundamente compatível
com uma mentalidade de cristandade, como a que
ainda está em vigor, que gera um contingente
de batizados não evangelizados, para
uma outra, fundamentada na lídima Tradição
da Igreja, a Patrística, certamente com
as devidas adaptações, não
é tarefa fácil.
Nos primeiros séculos
da Igreja (até o séc. IV) prevalecia
uma situação de perseguição
ao Cristianismo e era exigida uma formação
sólida para os cristãos que solicitavam
o batismo, na medida em que poderiam passar
por situações que exigiriam uma
identidade firme, que de antemão sabiam
que a atmosfera era de perseguição,
chegando até o extremo do martírio;
este quadro perdurou até a “conversão
de Constantino”, acontecendo uma virada
que levou à decadência do catecumenato.
Neste período
a Igreja, de perseguida e escondida, passa a
usufruir dos privilégios do Império,
inclusive com o status de ser a sua religião
oficial (Teodósio I), com conseqüências
catequéticas sentidas até hoje.
Como afirma o Catequeta Irmão Nery, “a
Igreja perde uma importante e vital organização
que lhe garante fiéis bem preparados,
integrados na liturgia, familiarizados com a
Sagrada Escritura, centrados em Jesus Cristo,
capazes de dar as razões de sua esperança”,
(Catequese com adultos e catecumenato –
história e proposta – Paulus 2001,
p. 62), além de serem comprometidos com
a comunidade.
Nesta mudança
de época que estamos vivenciando, com
repercussões para a ação
pastoral e evangelizadora da Igreja, exige-se,
especialmente da parte dos presbíteros,
dentro do exercício do seu ministério,
como pressuposto básico para acontecer
todas as outras mudanças, assumir a pastoral
catequética dentro do estilo catecumenal.
Se no longínquo
passado, a perseguição e as heresias
dos primeiros séculos ajudaram a dar
solidez na fé e a identidade cristã,
hoje o pluralismo religioso requer convicção
e discernimento das opções religiosas;
da mesma forma o clima de secularismo de um
mundo que se constrói sem Deus, de uma
sociedade que se funda na economia de mercado,
na busca desenfreada do ter para consumir e
numa vida que se edifica a partir do desejo
da fama, do prestígio e do poder, exacerbando-se
o individualismo que chega ao narcisismo, exige-se
igualmente uma proposta espiritual que dê
sustento e equilíbrio e maturidade à
vida das pessoas, contemplando os valores apresentados
pelo movimento de Jesus, codificado nos Evangelhos,
assumindo processualmente o seu estilo de vida.E
aquilo que foi dito no início desta reflexão
dará um novo horizonte à vida
bem como uma orientação decisiva.
Com a implantação
de uma Catequese de Iniciação
Cristã, procedendo a uma mudança
radical no estilo de catequese, agora com perfil
catecumenal, ou seja, que dê prioridade
à educação da fé
dos adultos a partir do encontro com Jesus Cristo
e com uma séria e inevitável formação
dos atuais e futuros catequistas, poderemos,
a médio e longo prazos, alcançar
a “maturidade em Cristo (Ef. 4,13).
PADRE
ALMIR MAGALHÃES.
Pe.
Almir
é sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza,
Reitor do Seminário Arquidiocesano São
José (Filosofia), e colunista do site
do bairro Antônio Bezerra.
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