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Autor:
Pe. Almir Magalhães
Sacerdote e Pedagogo |
A
MISSÃO NO DOCUMENTO DE APARECIDA (I)
O texto conclusivo da V Conferência
Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribenho,
conhecido como o DOCUMENTO DE APARECIDA,
transpira de ponta a ponta a centralidade da
missão da Igreja para o Continente. Tudo
é direcionado para a missão. O
documento é um convite a repensar a Igreja
a partir da missão e a repensar a missão
a partir do mistério da Igreja.
Para se chegar
à missão, há um processo
constituído de cinco aspectos, há
uma mística, uma atitude relacional que
se baseia em dois pressupostos: o primeiro é
uma experiência de encontro pessoal com
Jesus Cristo e o segundo é o compromisso
com a vida humana, que tem como fundamento a
proposta de Cristo, que quer que todos tenham
vida em plenitude (Jo, 10,10). Quais são
os passos do processo? (DA, 278):
Tudo nasce da
experiência pessoal que é provocada
pelo Kerigma = anúncio
(DA,289).
A
partir desta experiência acontece a conversão
que leva ao discipulado mediante uma espiritualidade
que o torna parecido com o mestre, compartilhando
com o seu destino (DA, nn. 138 e140).
O
seguimento leva inevitavelmente à comunhão
e à missão, pois discipulado e
missão são como as duas faces
da mesma moeda (DA nº. 146). O discípulo
é levado a comprometer-se comunitariamente
com a vida, entendida em todas as suas dimensões,
ou seja, espiritual, cultural, econômica,
social... . Desta forma chegamos ao segundo
pressuposto, a missão comprometida com
a vida humana, incluindo aí com o meio
ambiente.
Portanto,
o encontro com Jesus Cristo só terá
sentido se levar o discípulo a abraçar
a missão.
Passo seguinte
é ver qual a idéia hegemônica
de missão que o documento apresenta.
Quando se fala em missão geralmente a
tendência é identificá-la
com as santas missões populares ou então
com a missão de agentes.
No que diz respeito às santas missões
populares, o documento silencia, não
havendo ali referência a respeito. Continua
sendo para nós uma atividade de extrema
aceitação e relevância popular,
como uma forma de animação missionária,
como momento forte, sem no entanto garantir
a criação de uma Igreja com rosto
missionário.
No que concerne
à missão ad gentes, está
garantida no documento dos números 373
– 379. Ali encontramos a afirmação
de que devemos nos formar como discípulos
missionários sem fronteiras, dispostos
a ir “à outra margem”, àquela
onde Cristo não é reconhecido
como Deus e Senhor, e a Igreja não está
presente(DA, nº. 376).
O núcleo
do documento é uma Igreja toda em estado
permanente de missão, “não
como uma tarefa opcional, mas como parte integrante
da identidade cristã” (DA, nº.
144). Não é uma campanha, mas
um estado de ser cristão. Na própria
introdução já aparece este
conceito de missão, quando afirma que
“a Igreja é chamada a repensar
profundamente e a relançar com fidelidade
e audácia sua missão nas novas
circunstâncias latino-americanas e mundiais...
Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar
a novidade do Evangelho arraigada em nossa história,
a partir de um encontro pessoal e comunitário
com Jesus Cristo, que desperte discípulos
e missionários” (DA, nº. 11).
Esta maneira de
entender a missão deve levar a Igreja
em seus vários níveis (Diocese,
Paróquia, Área Pastoral e grupos
menores) a criar mecanismos pastorais que processualmente
possam ir gestando esta nova configuração:
uma Igreja missionária, o que significa
abandonar muita coisa que temos hoje e que não
responde aos desafios do atual contexto. Este
porém é assunto para o próximo
artigo neste mesmo espaço.
Como ponto conclusivo,
faz-se necessário colocar qual é
a fundamentação que o documento
apresenta. A primeira fundamentação
encontra-se nas relações intra-trinitárias
do amor divino, cuja fonte é o batismo:
“Todos os batizados da América
Latina e do Caribe, através do sacerdócio
comum do Povo de Deus, somos chamados a viver
e a transmitir a comunhão com a Trindade,
pois a evangelização é
um chamado à participação
da comunhão trinitária (DA, nº.
157) e que o impulso missionário é
fruto necessário à vida que a
Trindade comunica aos discípulos. (DA,
nº. 347, AG, 2).
O mistério
da Trindade é a fonte, o modelo e a meta
do mistério da Igreja. (DA, nº.
155). As palavras que estão em negrito
e sublinhadas são de uma expressiva relevância,
na medida em que apontam para uma configuração
de Igreja e de sociedade novas.
Uma última fundamentação,
que atravessa todo o documento, é que
o batizado deve tornar-se discípulo missionário
e isto nos remete ao Evangelho de Mateus, segundo
o qual a missão é essencialmente
FAZER DISCÍPULOS.
É
justamente assim que um dos últimos números
do documento conclui: “Esta V Conferência
recordando o mandato de ir e fazer discípulos
(cf. Mt, 28,20), deseja despertar a Igreja na
América Latina e no Caribe para um grande
impulso Missionário” (DA, nº.
548).
Mãos à obra! Sucesso.
PADRE
ALMIR MAGALHÃES.
Pe.
Almir
é sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza,
reitor do Seminário Arquidiocesano São
José (Filosofia), professor de Teologia
Pastoral I e II do Itep e mestre em Missiologia
pela Pontifícia Universidade Gregoriana,
em Roma e colunista do site do bairro Antônio
Bezerra.
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