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Autor:
Pe. Almir Magalhães
Sacerdote e Pedagogo |
DISCIPULADO
E PROFECIA
O
tema do discipulado, além de ser uma
abordagem recorrente e portanto de muita atualidade,
já foi objeto de contribuição
da minha parte em outros momentos, evidentemente
sob enfoques e perspectivas diferentes.
A preocupação da Igreja em sua
ação pastoral (voltada para os
engajados) e evangelizadora (missionária,
um serviço ao mundo) na perspectiva do
discipulado não pode se desvincular da
temática da profecia. Com esta observação
quero salientar que a ótica do discipulado,
do seguimento não pode se afastar dos
pobres e consequentemente da dimensão
profética da vida da Igreja.
Também, já
foi muito salientado que a nossa prática
pastoral está muito centrada no templo,
no culto, numa linha de manutenção,
burocrática, de massa, de muitos eventos
que dão visibilidade à Igreja
enquanto Instituição (Caminhada
Penitencial, Caminhada da Juventude, Caminhada
de Pentecostes, Queremos Deus, Halleluya e Caminhada
com Maria...), mas que sinalizam muito pouco
para a evangelização, e menos
ainda com a dinâmica do seguimento de
Jesus, na profecia. Com toda a consciência
de se reconhecer os valores e o despertar que
podem advir destas atividades, sobretudo pelo
agir do Espírito Santo que desconcerta
nossas certezas, dificilmente descobrimos aí
sinais de profetismo.
Mesmo que se reconheça
o pluralismo como uma riqueza, aqui se torna
extremamente necessário se pensar e agir
eclesialmente. Para isto é fundamental
o Planejamento Pastoral com seu objetivo e prioridades
que conduzem a esta unidade como também
as Diretrizes Gerais em nível nacional.
O trabalho miúdo, de grupos de reflexão,
de comunidades, de uma catequese de inspiração
catecumenal, que desemboque na missão
e leve em consideração a dimensão
profética, numa avaliação
séria, grosso modo, ainda está
por acontecer, apesar das indicações
do próprio Magistério da Igreja.
A 43ª. Assembléia Geral da CNBB
(09 a 17.08.05) aprovou um documento que tomou
o nº.80, intitulado Evangelização
e Missão Profética da Igreja –
Novos Desafios.
O documento em tela
levanta três grandes desafios que devem
ser tomados em consideração: o
pluralismo cultural e religioso, a exclusão
social persistente no Brasil e as questões
éticas decorrentes das novas biotecnologias.
Será que é
possível descobrir em que se fundamenta
o discipulado, o seguimento de Jesus Cristo?
O próprio Jesus perguntou uma vez aos
seus discípulos: “Quem dizem os
homens ser o Filho do Homem?” Eles responderam:
“Alguns dizem que é João
Batista; outros que é Elias; outros,
ainda, que é Jeremias ou alguns dos Profetas”.
Então Jesus lhes perguntou: E vós,
quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu:
“Tu és o Messias, o Filho de Deus
vivo”. (Mt. 16, 13-16). Como se percebe,
a visão que eles tinham de Jesus era
diferenciada e finalmente Pedro diz que Jesus
é o Cristo, o Messias.
Também hoje é
possível ter visões diferenciadas
sobre a pessoa de Jesus Cristo e a partir desta
visão, que também pode ser de
determinado grupo, comunidade..., emergirem
práticas que estejam de acordo com a
mesma. Qual o Cristo a “meu” a “nosso”
gosto? Aquele que se busca a fundamentação
na ressurreição, desvinculada
da totalidade do Mistério Pascal, portanto
economizando a sua mensagem, a sua vida e a
sua morte? Ou se busca também um Jesus
Cristo das curas e dos milagres, como fatos
em si mesmos e maravilhosos, também aqui
abstraindo o significado messianico dos mesmos?
Ou corre-se ao encontro do Cristo que para cumprir
sua missão de plenificar o processo de
salvação encomendado, não
foi homem de meio-termos, foi determinado, e
para isto enfrentou tanto os poderes religiosos
como do império buscando aí a
fidelidade e a continuação da
missão hoje?
A profecia se fundamenta
na PALAVRA, no PROJETO DE DEUS e tem dois caminhos
que se complementam: o caminho do anúncio
deste projeto para se encontrar a felicidade
e o outro que é o da denúncia
de tudo aquilo que se afasta do referido Plano.
Ora, o cristianismo foi no passado e sempre
será ou deverá ser um MOVIMENTO
CONTRACULTURAL, que vai na contramão
da história, que incomoda. Olhando hoje
a situação de miséria,
da negação da vida do nosso povo
que vive a mesma situação de abandono,
também da nossa parte, que fez Jesus
dizer que “este é um povo cansado
e abandonado como ovelhas sem pastor”
(cf. Ezequiel 34 e Mt. 9,36).
Para finalizar, uma
pergunta: Por que a Profecia está em
baixa ou quase inexistente hoje? Arrisco algumas
idéias: Em primeiro lugar está
o modelo de Igreja predominante hoje e já
citado acima; Em segundo lugar, em função
da nossa inexpressiva presença junto
aos pobres, mediação indispensável
para despertar a nossa sensibilidade e indignação
ética e práticas daí decorrentes;
em terceiro lugar, a falta de apoio às
Pastorais Sociais; Em quarto lugar uma prática
de cristandade ainda hoje vigente, sobretudo
nas Paróquias do interior, em que a aliança
com o poder político, inclusive recebendo
benefícios do mesmo e a presença
de padres na política partidária
basicamente anulam a liberdade e o potencial
profético. Enfim, não se pode
servir a dois senhores.
PADRE
ALMIR MAGALHÃES.
Pe.
Almir
é sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza,
Reitor do Seminário Arquidiocesano São
José (Filosofia), e colunista do site
do bairro Antônio Bezerra.
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